segunda-feira, 19 de setembro de 2011

14ª Parada Gay deixa Brasília colorida


Brasília colorida

Brasília coloridaFoto: Thyago Arruda

MILHARES DE PESSOAS SE REÚNEM NO EIXO PARA FAZER FESTA E LUTAR PELOS DIREITOS CIVIS DA COMUNIDADE LGBT

Natalia Emerich_Brasília 247 – O Eixão Sul foi tomado pelas cores do arco-íris na tarde de domingo (18), durante a 14ª Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros de Brasília, a Parada Gay. Com o tema Reprova a Homofobia, Lição de Cidadania, milhares de pessoas marcharam embaladas pelo som de seis trios elétricos. O evento foi apoiado por políticos e sindicatos do Distrito Federal.
Passava das 16 horas quando uma cantora interpretou o Hino Nacional, ao rítmo de samba, para dar início à caminhada. Animados, o público LGBT e simpatizantes aproveitaram o fim de tarde para se divertir e dar continuidade à luta por direitos igualitários. "Há 14 anos, durante a primeira parada, pessoas sairam às ruas da capital com máscaras por medo do preconceito e da repressão", recorda Michel Platini, vice-presidente do Grupo LGBT Estruturação e organizador do evento. "Hoje podemos reivindicar nossos direitos com a cara limpa, já avançamos muito", afirma.
O lema da Parada Gay 2011 é conscientizar a população sobre a homofobia, principalmente dentro das escolas. Platini explica que o bullying nas escolas não diz respeito apenas à orientação sexual, mas o preconceito nessa área torna a violência mais difícil de ser superada, fazendo com que muitos estudantes abandonem as salas de aula. "Quando o aluno é agredido por causa da raça ou da classe social, a família interfere para protegê-lo", diz. "Quando é LGBT, porém, muitas vezes não há apoio dentro da própria casa."
Em cima de um trio elétrico, as deputadas federal Erika Kokay (PT) e distrital Rejane Pitanga (PT), e diretores do Sindicato dos Professores do Distrito Federal Sinpro/DF), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de grupos LGBTs, como o Elos e o Basta homofibia, apoiaram o evento. Cinco intérpretes do Sinpro traduziram as palavras simultâneamente para a Lingua Brasileira de Sinais (Libras).
Enquanto políticos e ativistas falavam, a comunidade LGBT dava o recado na pista com muita criatividade. Alguns com cartezes críticos, como os que pediam a aprovação do Projeto de Lei Câmara (PLC) 122/2006, que propõe a criminalização da homofobia; outros com bandeiras e fantasias. A transsexual Paulinha Abelha, 33 anos, por exemplo, roda o Brasil para acompanhar as paradas em outros estados. "É um sentimento inexplicável de liberdade, aos poucos estamos conquistando o respeito dos brasileiros", diz. Com o apoio da família, ela está na justiça para oficializar o nome de mulher.
Casado há 11 anos, o cabelereiro David – conhecido também como Mirella Davis –, 26, aproveitou a parada para fazer o que gosta: colocar maquiagem, roupas glamourosas, fios longos, saltos e se transformar todo. "Só não trabalho como transformista porque é caro e pouco valorizado", conta. A soma para ficar nos trinques, segundo ele, passa de R$ 1, 5 mil. "Venho para rever amigos e apoiar a luta pelos direitos que também são nossos." Unir-se em prol da mesma causa também levou o vendedor Fábio Lucas, 20, a deixar Minas Gerais, onde vive, para acompanhar o namorado na marcha. "Aqui podemos ser quem somos de verdade", desabafa o vendedor, que já presenciou amigos apanharem por ser homossexuais.
Mostrar que o respeito é o melhor caminho e terminar o domingo com boa música levou centenas de heterossexuais à parada. O casal Ludmila Tavares, 25, e Marcos Karino, 34, estava lá. Segundo a socióloga Ludmila, a parada representa um passo a favor da igualdade. "As manifestações ganharam espaço no país, mas em questão de direitos ainda há muito o que se fazer", alerta.
O evento reuniu também muitas famílias. Denise Carvalho, 34, e a mãe Vera Lúcia Carvalho, 64, foram juntas. Pela primeira vez na marcha, elas se divertiram, mas consideraram os discursos da Parada apelativos. "De vez em quando as falas acabam contribuindo para reforçar o preconceito, eles colocam a realidade numa perspectiva exagerada", diz Denise. Vera Lúcia considera que, apesar dos textos repetitivos, a experiência é uma oportunidade para que a comunidade LGBT perca o medo de se assumir.
Segundo o capitão André Lima, da Polícia Militar do Distrito Federal, até às 20h o público já ultrapassava 15 mil pessoas. Para dar maior segurança ao evento, 120 agentes da PM, apoiados por 20 viaturas e 10 motos, estão no local. A 14ª Parada do Orgulho LGBT vai até as 22h e seus organizadores acreditam que o público tende a superar a 13ª edição, que teve 30 mil pessoas.

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