Cristina Avila, da Agência Brasília
O 1° Festival Internacional de Artes de Brasília (FestiArte) realizou neste fim de semana suas últimas apresentações. O festival terminou ontem (12) com o mérito de ter reunido, desde o último dia 4 de janeiro, cerca de 300 mil pessoas em torno da alegria e da cultura. Até o último dia, foram apresentados 58 shows e concertos, oito espetáculos de dança, 26 apresentações de teatro e 58 filmes, além de peças infantis, apresentações de circo e um sarau literário. A iniciativa favoreceu as cidades do Distrito Federal – que foram inseridas, pela primeira vez, nos roteiros dos grandes espetáculos artísticos.
Ao longo do período de realização do festival, as cidades funcionaram como palco de 12 concertos realizados pelo Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra), executados por alunos e professores. Tudo isso em oito regiões administrativas do DF: Plano Piloto, Gama, Ceilândia, São Sebastião, Guará, Taguatinga, Sobradinho e Estrutural.
“A acolhida da sociedade foi extraordinária. O Governo do Distrito Federal permitiu que toda a população tivesse acesso à cultura. Entendemos a cultura como direito básico e não apenas como oferta de mercadoria”, frisou o secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira. O FestiArte é um projeto do GDF realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação. O evento conta com o apoio da Secretaria de Turismo do DF, Escola de Música de Brasília e embaixadas da Espanha, China, Venezuela, Dinamarca, México, Suécia e República Tcheca.
Pela sua extensão e pelo fato de ter possibilitado o acesso da população do DF às apresentações variadas, o FestiArte chamou a atenção de artistas, representantes do setor cultural e cidadãos diversos. O compositor Wagner Tiso, um destes que demonstrou boa impressão com a iniciativa, afirmou que se tratou de um festival “importante não apenas para Brasília, mas para o Brasil”. Assim como o compositor, a administradora da Cidade Estrutural, Socorro Torquato, foi outra a ressaltar a importância de serem levados espetáculos aos locais onde vive a população mais sujeita a vulnerabilidade social.
“A peça teatral ‘Meu chapéu é o céu’ foi vista por cerca de 700 pessoas da Cidade Estrutural, a maioria crianças e adolescentes. A Estrutural é reconhecidamente uma das regiões mais carentes do Distrito Federal, e uma oportunidade como essa transforma a cidade. Afasta a sensação de exclusão e gera a sensação de inclusão social. Nos alegrou muito ver o sorriso no rosto das crianças e seus olhos brilhando ao assistirem à peça. É com esse fascínio que buscamos trabalhar com elas”, comemorou Socorro Torquato.
Durante todo o período de realização do FestiArte, a cada distribuição de ingressos o público se multiplicou. Um dos espetáculos mais concorridos foi o do cantor Ney Matogrosso: mais de 4 mil pessoas disputaram um lugar na platéia, que só tinha 2,5 mil lugares. Não poderia ser diferente, já que o festival reuniu gente de peso, desde a abertura – que contou com shows de Paulino da Viola, Reco do Bandolim e o grupo Choro Livre.
Passaram pelos palcos do DF, ao longo do período, estrelas como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Vanessa da Mata e Oswaldo Montenegro, Pedro Mariano, Eumir Deodato, Cida Moreira, Lia de Itamaracá e Tulipa Ruiz, além de Felipe Catto. Artistas da cidade também contribuíram com a beleza do festival, como GOG, Renata Jambeiro, Ellen Oléria, InNatura, Patrick de Jongh, Dillo Daraujo, Marcelo Café e os músicos da Orquestra Sinfônica e da Orquestra Filarmônica de Brasília.
Na sexta-feira, foram programadas apresentações de danças e músicas tradicionais da China, para encerrar a programação com chave de ouro. O público ainda pôde assistir diversas peças de teatro, show da cantora Luiza Possi e dar muitas gargalhadas com o circo Udi Grudi.
Entrevista com o secretário de Cultura, Hamilton Pereira
Ao fazer um balanço sobre a realização do 1° Festiarte, o secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira, destacou questões importantes para o êxito do evento, como a descentralização da oferta de atividades para as cidades e a programação diversificada. Nesta entrevista, o secretário destaca que o formato do festival foi feito de forma a responder às necessidades de aproximar a oferta de música, cinema, teatro, arte, às mais diferentes comunidades que o Distrito Federal abriga.
Agência Brasília – Que balanço o senhor faz do 1° FestiArte, em termos de metas alcançadas?Hamilton Pereira –Tomamos a decisão política de oferecer espetáculos em um período de agenda cultural carente, nos meses de janeiro e fevereiro. O Governo Agnelo Queiroz ofertou atividades qualificadas, por iniciativa das Secretarias de Educação e de Cultura. Isso é muito importante ressaltar, porque não se trata apenas de uma oferta de espetáculos, mas de eventos culturais de alta qualidade, da melhor expressão do que se produz no país. Particularmente na área da música, pois o festival dialoga com o tradicional Curso de Verão da Escola de Música, que a Secretaria de Educação realiza há 34 anos. A acolhida da sociedade foi extraordinariamente receptiva.
Agência Brasília – E qual o significado desta realização?
Hamilton Pereira – O Festival nos revelou, inclusive, que estamos carentes de espaços para a realização de espetáculos no Distrito Federal. Muita gente quis ver os espetáculos. Sobretudo, este foi um momento em que o Governo Agnelo Queiroz pôde oferecer à sociedade do DF o exercício do direito à cultura. Entendemos a cultura como direito básico e não apenas como oferta de mercadoria.
Agência Brasília – Especialmente pelas apresentações nas diversas cidades do DF...
Hamilton Pereira – A descentralização da oferta de atividades para as cidades responde a necessidades de aproximar a oferta de música, cinema, teatro, arte, às mais diferentes comunidades que o Distrito Federal abriga. O FestiArte proporcionou uma oportunidade ímpar dessas comunidades acolherem múltiplos talentos, no sentido de sensibilização, formação de plateias, exercício de educação, do conhecimento da população sobre arte, em vez de concentrar tudo apenas no Plano Piloto. A demonstração que a sociedade de Brasília deu ao acolher o que de mais expressivo o Brasil produz,é uma resposta cabal sobre o dever do Estado de oferecer o melhor, e não escolher uma oferta rebaixada de cultura de massa.
Agência Brasília – O senhor se refere à diversidade da programação?
Hamilton Pereira – Sim, pois o festival foi qualificado, expressivo, diverso, sem preconceitos. O que queremos é oferecer o amplo, um espectro de toda a grande diversidade cultural brasileira.
Agência Brasília – Então, o festival foi um sucesso?
Hamilton Pereira – Digo sempre que o Governo Agnelo Queiroz é de reconstrução. Reconstrução institucional, reconstrução da credibilidade do Estado, reconstrução da auto-estima da população brasiliense, reconstrução física dos espaços culturais, inclusive daqueles tombados, que ao longo de dez anos foram tratados pela incúria, pela ausência de sensibilidade. Não podemos esperar que um mandato complete todas as carências. O festival apresentou resultados bem positivos, mas revelou que precisamos de espaços adequados para apresentação de nossos artistas e de outros do país e do mundo.
Foto: Mary Leal