quarta-feira, 6 de março de 2013

Chávez, leitor de Mészáros



13.03.06_Emir Sader_Chávez, leitor de Mészáros
Hugo Chávez entrega a István Mészáros o prêmio “Libertador al Pensamiento Crítico”
Por Emir Sader.
Hugo Chávez sempre disse que sua leitura fundamental nos anos de prisão foiPara além do capital, de seu amigo István Mészáros. O livro lhe foi levado por Jorge Giordani, que depois se transformaria no principal ministro da área econômica de Chávez, posto que mantém até hoje.
A penúltima vez em que pude estar com Hugo Chávez foi por ocasião do Fórum de São Paulo, durante a campanha eleitoral do ano passado. No ato de encerramento, no Teatro Tereza Carreño, Chávez tinha um exemplar do livro de Mészáros consigo e propôs a um idoso venezuelano, que havia recém conseguido se alfabetizar, que um dia lesse Para além do capital.
A inquietação intelectual de Hugo Chávez sempre foi impressionante. Diante da guinada conservadora de grande parte da intelectualidade venezuelana – a maior universidade do pais, a UCV, é controlada pela direita –, quando me perguntavam sobre o mais importante intelectual da Venezuela, eu dizia: Hugo Chávez.
Em qualquer conversa com ele, ele se interessava imediatamente sobre o que a gente estava dizendo, pedia leituras e outras indicações. No seu programa Alô Presidente, ele comentava que estava lendo autores como Gramsci, Rosa Luxemburgo, além de, sempre, Marx, Engels, Lenin, Trotski. Leituras que ele fazia nos constantes voos que realizava.
Eram inquietações teóricas sempre vinculadas à realidade concreta da Venezuela e da América Latina. Ele era capaz de passar de raciocínios teóricos abstratos a problemas imediatos que seu pais enfrentava. Com a perda de Hugo Chávez perdemos um dirigente de origem popular – sua fisionomia é muito popular no país – e uma cabeça inquieta, criadora, como poucas.
Sem contar da simpatia esfuziante com que ele conquistou a todos nós. Desde o começo do seu governo, desde suas primeiras vindas ao Brasil, para o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, até sua ultima visita, quando assinou com a Dilma um acordo de intercambio aeronáutico entre os dois países.
Mesmo já nos seus últimos meses de vida, nunca se viu nenhum sinal de sofrimento no seu rosto. Sua vitalidade era impressionante, foi das pessoas mais vitais que conheci. Uma perda destas é incalculável, por mais que o que ele tenha deixado já permite dizer que seu legado é irreversível.

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