A ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Iriny Lopes; Foto: Valter Campanato/ABr
Na semana passada, a ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, tornou-se a integrante mais falada do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff. O motivo,
diferentemente dos cinco ministros que deixaram suas pastas sob suspeitas, foi uma nota assinada pela secretaria pedindo a suspensão, ao Conar (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária), de uma propaganda com a top Gisele Bündchen. Na campanha, promovida pela Hope Lingerie, a modelo ensina as mulheres a dar más notícias aos maridos (como excesso de gastos ou batida de carro) sem risco de serem recriminadas: tirando a roupa.
Foi o suficiente para que movimentos em defesa das mulheres manifestassem repúdio ao conteúdo da propaganda, endossado pela secretaria do governo federal. A “reação à reação”, no entanto, foi ainda mais forte: a ministra foi criticada por supostamente tentar cercear a liberdade de expressão. Para os “críticos da crítica”, faltou bom humor ao governo e às feministas.
Em entrevista a CartaCapital, Iriny Lopes, mineira 55 anos, afirma ter ficado “estupefata” com a politização do debate – que, segundo ela, não respondeu se a propaganda era, afinal, boa ou prejudicial à mulher. Para a ex-deputada, a campanha com a top tinha um recado subliminar desrespeitoso à mulher, que coloca à disposição o próprio corpo para amenizar a ira do companheiro. Na entrevista, a ministra não poupou também o humorista Rafinha Bastos, no centro de polêmica após dizer, no ar, que “comeria” a cantora Wanessa Camargo, que está grávida, e o bebê dela. “O estupro não é piada, é crime”, diz a ministra, para quem brincadeiras desse tipo só reforçam o medo de as mulheres denunciarem agressões – e fazem com que os agressores se sintam seguros da impunidade. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
CartaCapital: O que levou a secretaria a pedir a suspensão da propaganda com a modelo Gisele Bündchen?
Iriny Lopes: Recebemos, através da nossa Ouvidoria, cobranças para que a secretaria tomasse uma posição. A ouvidoria existe para isso, para ouvir a sociedade. Faz parte do processo democrático. Não nos compete julgar o mérito (
da suspensão da propaganda), isso compete ao Conar. No nosso juízo havia uma característica sexista na propaganda, de coisificação da mulher. Havia uma ideia de que, para conter a violência do companheiro, era necessária a erotização. De fato, elas devem ser bonitas, lindas, desejadas, assim como eles para elas. Mas não com esse tipo de brincadeira, que perpetua a ideia da mulher-objeto. Nós solicitamos que o Conar se manifestasse. E fomos informados pelo Conar de que outros 11 pedidos semelhantes foram anexados à nossa representação.
CC: O pedido foi interpretado como uma tentativa de censura. O ex-governador José Serra lembrou o episódio para criticar o governo.
IL: Qualquer coisa que a gente faça sempre será politizada. Principalmente num país conservador como o nosso. A questão levantada pela representação não é o que virou o debate. A questão foi tratada de uma maneira conservadora e politizada. E contra um governo que está dando muito certo numa situação desfavorável, que é a situação econômica. Uma mulher dando certo num campo desses incomoda muita gente, por ser uma mulher de esquerda.